domingo, 22 de agosto de 2010

O vermelho

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“Ah se pelo menos o pensamento
não sangrasse!
Ah se pelo menos o coração
não tivesse memória!
Como seria menos linda
e mais suave minha história!”
Cacaso

Olhamos-nos e não imaginávamos que o outro seria como um pedaço de nós mesmos.
Quando o amor vem, ele nos toca suave. Não anuncia o poder avassalador que tem. O poder de machucar, de aniquilar, de rasgar.
Entregar-se é perigoso, é um descuido. A felicidade nos chega com mais freqüência, mas a dor pode nos chegar com mais intensidade, com mais força!
Alguns morrem de amor ao idealizá-lo. Muitos morrem de amor ao dominar. Outros morrem de amor pela dor. Poucos têm medo de morrer.
Eu, Eu gosto é da morte.
Seu olhar me flecha. Sua voz me consome. Seu toque me corta. Seus lábios me envenenam com um doce que disfarça o meu gosto acre.
Mergulho em espinhos amaldiçoados pelo amor. Espinhos envenenados de prazer, um alegre prazer de viver. Quanto mais fundo descubro, mais o amor me faz prender o fôlego e buscar mais, me arranhar mais.
Minha alma só não está drogada dos padrões mórbidos e do cotidiano fúnebre, quando encontra a sua em meio a tudo isso. Parece que não vivo. Nosso amor transcende o que nomeei real.

Pintura:    Mauve, de Giovanni Boldini 

Alessandra Prado Rezende